Dirigida por Walter Carvalho, a mais nova biografia audiovisual do cinema retrata o início, o fim e o meio da jornada de Raul Seixas pelo mundo material. Coerente com o discurso do Maluco Beleza, o filme dá voz a uma ampla gama de visões sobre a vida, neste caso a do próprio cantor. Com ênfase na perspectiva do parceiro Paulo Coelho e de suas esposas, deixa a responsabilidade sobre as conclusões para a audiência.
Ainda menino, na Bahia, Raul cantava o rock de Elvis Presley – e fazia o estilo todo. Fez sucesso desde a primeira banda, Raulzito e os Panteras, cantando Let me sing, let me sing em ritmo de baião misturado ao rock’n’roll dos anos 1950. Com a projeção que teve, começou a trabalhar como produtor e foi conhecendo muitas figuras importantes na cena artística, como o escritor Paulo Coelho, Caetano Veloso e Chico Buarque.
Muitas vezes, como seus colegas, driblou a censura da Ditadura Militar criando letras que falavam sobre valores como Paz, Amor e Liberdade mesmo em anos de chumbo e em meio a outras formas de repressão. É claro, foi mandado para fora do país, aterrisando em New York City, onde conheceu John Lennon e Jimi Hendrix. Também deixou por lá uma filha.
A vida amorosa toma grande parte do filme, que abre espaço para o depoimento de suas companheiras, filhas, netos e netas. Apesar, ou quem sabe em função, de seu sucesso, Raul seguia sempre seu próprio caminho, o que o levava muitas vezes em direções diferentes das companheiras. Uma de suas filhas, até hoje, tem dificuldade em abordar a relação com o pai, o que fica evidente no documentário.
Mas aquela Metamorfose Ambulante, que nasceu há dez mil anos atrás e não tem nada nesse mundo que não saiba de mais, aquela exegese metafísica que representou a soma das ciências iluminadas e ocultas – que certamente ele não inventou, mas que definitivamente catalisou – foi seu grande legado. E não que tenha sido o único nem o primeiro, mas com certeza foi muito longe. Vale a pena conferir!
Hoje é o dia da verdade. Não dê bom dia e avise que está de TPM. Admita que arrumar todo esse cabelão dá trabalho e que, por ao menos um dia, você gostaria de ir despenteada ao trabalho. Olhe nos olhos do seu pai e diga que você não é feliz na universidade. Conte pra ele que você queria mesmo era plantar sua própria comida e, lá no fundo, sabe que pra isso não precisa da universidade. Diga a sua mãe que você não quer ser igual a ela. Que, na verdade, você quer um homem que a ame de verdade, independente de quanto dinheiro ele tem. Mostre que você descobriu que seu pai é um imbecil e que você não o ama de verdade. Aproveite e admita a si mesma que você e ele só estão juntos por puro interesse. Diga a sua namorada que sabia que uma mulher inteligente jamais o chamaria de meu amor, e, portanto aceitou ter uma namorada vazia e de peitos grandes. Aproveite e diga a ele que que você não o ama. Fale em voz alta que você sente atração por pessoas do mesmo sexo. Conte ao seu marido que você engravidou de propósito pelo dinheiro e por seu sonho de menina de ser mãe. Admita que só não está solteiro porque não consegue ficar sozinho consigo mesmo. Ou aceite que não está solteira por escolha. Diga a verdade, que você só é contra as cotas porque lá no fundo seu avô te ensinou a ter preconceito. E que é por isso que você agarra a bolsa quando um negro passa do seu lado. Aproveita e diz ao seu amigo babaca que essa piada machista só o faz parecer um boçal. Saiba que tá na hora de crescer e aceitar que você já poderia sair detrás das asas do papai, mas só não quer. Olhe no espelho e descubra que você nem gosta de política, mas escreve a respeito porque o bofe é intelectual e você nunca foi. Conte para sua melhor amiga que você morre de inveja dela e que é melhor manter uma inimiga mais perto ainda. Ou conte a ela que hoje vocês não têm nada a ver e que, por pena, não à abandona. Ao menos uma vez na vida, exponha o seu verdadeiro eu. Decida que vai sair sem maquiagem e chapinha e mostrar ao mundo que você é mais que um simples corpinho bonito (ou não). Rejeite o emprego dos sonhos do seu pai. Compre somente o que você acha bonito, mesmo que não seja aos olhos dos outros. Cante alto sem a vergonha de ser feliz, mesmo que seu amigo odeie essa música. Admita a espinha, os cachos; que não gosta de academia, que seus amigos são idiotas, que você nem sempre está feliz e que a vida toda tentou ser outro alguém.
(Precisamos de um dia para a verdade. Nossa cultura já está tão cheia de mentiras que nem tem mais graça o primeiro de abril.)
http://www.youtube.com/watch?v=gGOu5m0xWRs
Meu melhor amigo é homossexual. É bonito, alto, já foi voluntário, é um dos melhores alunos da faculdade de economia e fala até sueco e chinês. Outro dia, estávamos eu e outra amiga elogiando-o durante um passeio no shopping. Comentávamos de todas suas virtudes e como ele era uma pessoa especial. Sempre fomos muito orgulhosas e gratas ao destino por tê-lo como amigo. Por outro lado , nos questionávamos como poderia alguém descartar todo o prazer de ter uma amizade como essa por um preconceito tão simplório como é a homofobia. Menosprezar a companhia daquele meu amigo seria o maior pecado que alguém poderia cometer.
Às vezes parece que o assunto certo está no lugar certo. Entramos em um restaurante para comer e lá estava: um casal homoafetivo. Dois meninos igualmente lindos de mãos dadas que trocavam carinhos no cabelo e olhares que levantariam suspiros de qualquer um que entende o significado do amor.
Enquanto nos divertíamos lembrando das noites com Barbara Streiand e bons drinkes, percebemos que a mesa do lado não compartilhava da mesma emoção. Meia dúzia de trabalhadores engravatados comiam e bebiam enquanto cochichavam. Estavam na mesa um casal de homem e mulher e mais quatro homens que aparentavam fazer parte do mesmo escritório. Não era muito fácil entender o que estavam dizendo, mas pelos olhares de julgamento direcionados aos dois rapazes, não foi difícil descobrir o que estava por vir.
Pois bem, ao terminar seu almoço com a calma de quem está apaixonado e não se importa com o mundo exterior, o casal se levantou e pagou a conta. Não demorou muito para que o tom de voz da mesa ao lado começasse a aumentar.
– Mas isso é um absurdo! Onde já se viu homem gostar de dar o rabo! Essa geração está perdida. – gritou o primeiro.
– Imagine só você que desrespeito aos bons costumes! Sempre ensinei meu filho que ele deve amar uma mulher, como explico isso que ele vê na televisão?
Foi nesse momento que, o homem que estava acompanhado da mulher comentou:
– Mas calma lá vocês! Vocês estão desrespeitando o direito deles de se amar. Eu sou totalmente a favor do casamento e da relação entre homossexuais, sei o que é gostar de alguém e querer ficar com essa pessoa.
Nesse momento, o meu olhar se cruzava com olhar da minha amiga e ambas pareciam dizer uma á outra: ainda há esperança. Estávamos felizes que alguém ali havia entendido que amor é amor seja com quem for e que mais vale o respeito à escolha alheia do que um par de mentiras místicas. Foi quando nos atentamos mais uma vez à mesa vizinha e o tão admirável rapaz beija sua companheira e fecha seu discurso:
– Só concordo que publicamente fica um tanto quanto libertino.
Todo dia desejo criatividade para escrever bem. Por isso, antes de dormir, canto:
Gênio nosso, se houver céu ,
imortalizado seja o vosso nome,
venha a nós o vosso verso
seja feita a vossa poesia
assim no tapume como no papel.
A epifania nossa de cada dia nos dai hoje,
perdoai-nos as nossas críticas,
assim como nós perdoamos
a quem não nos tem entendido,
e não nos deixeis cair em amolação,
mas livrai-nos do normal.
Amém.
Ontem fez 70 anos que o baiano apelidado de Caê nasceu. Multifacetado, representou toda uma geração de jovens brasileiros com ideias revolucionárias. Já foi escritor, jornalista, produtor, filósofo, músico, arranjador e até inimigo do Estado. Contudo, sua marca mais notória pra história brasileira foi a capacidade de transmitir toda a mistura viva do mundo em melodia e palavra cantada.
Caetano Veloso se transporta através do tempo e dos gêneros. Iniciou sua carreira fazendo interpretações de músicas já conhecidas e misturando estilos tradicionais com a cultura popular, ajudando a fundar a Música Popular Brasileira, o Tropicalismo e até mesmo o rock psicodélico brasileiro. Foi nos espetáculos informais e festas de universidade que descobriu sua vocação para a mistura, o que se evidenciava pela participação em elencos como o de Nova bossa velha, velha bossa nova.
Apesar das críticas constantes com relação às letras nem sempre tão lineares, Caetano continua vivo na alma daqueles que gostam de boa música. Juiz de tudo, como dizem alguns colegas de carreira, fala o que pensa e continua desafiando a visão de leitores e ouvintes do mundo, conservadores e progressistas. Criticou Lula e foi criticado por ser incoerente, mas a verdade é que, com maturidade de quem já viajou por outros mundos, Veloso só tem compromisso com aquilo que sente na alma. Sua coerência não está ligada à figuras políticas ou movimentos sociais, mas sim com a quebra do status quo e, por isso, se dá o direito de repensar o mundo e sua ordem. Quantas vezes quiser.
Passarão anos, gerações e Caetano Veloso ainda será muso de inspiração. Suas músicas e poesias ainda circularão por aí, sejam em declarações de amor, críticas ou até mesmo em nomes de blogs (como este). Assim, com setenta anos completados ontem, e trabalhos muito característicos, Caê pode dizer que seu pedido ao tempo (como em Oração ao Tempo) foi atendido: seu espírito ganhou um brilho muito bem definido e suas palavras só espalharam benefícios.